Laboratório americano vende por U$85, exemplares de sangue Yanomami!
Matéria de dois sites americanos falando sobre a venda ilegal de exemplares de sangue e DNA indigenas brasileiros.

Indígenas das tribos Karitiana e Yanomami ficaram furiosos com a descoberta de que amostras de seus sangues e DNA’s estavam sendo vendidos por uma empresa dos EUA para cientistas de todo o mundo por US$ 85 a amostra. Os índios foram à luta para pedir que a prática fosse interrompida, e ainda exigiam uma compensação pelo que descreveram como violação de suas integridades.
Esta noticia saiu pela primeira vez em 2007, ou seja; 16 anos atrás, mas parece que não chamou tanta atenção na comunidade brasileira, mas revoltaram certamente os índios que foram induzidos por “cientistas” a fornecerem amostras de sangue com fins científicos diziam eles.
Os índios Karitiana se lembram dos primeiros pesquisadores chegaram na aldeia, no final dos anos 1970, logo depois que sua tribo amazônica começou a manter contato com o mundo exterior. Em 1996, outra equipe visitou a aldeia, prometendo remédios se o Karitiana desse mais sangue, então eles se alinharam obedientemente novamente.
Mas essas promessas nunca foram cumpridas, e desde então o mundo voltou a se expandir para os Karitiana com a chegada da internet. Agora eles ficaram furiosos com uma descoberta.
“Fomos enganados, enganados e explorados”, disse Renato Karitiana, líder da associação tribal, em entrevista aqui na reserva da tribo no oeste da Amazônia, onde 313 Karitiana ganham a vida cultivando, pescando e caçando. “Esses contatos foram muito prejudiciais para nós e estragaram nossa atitude em relação à medicina e à ciência.”
O povo Surui, cuja terra natal fica logo ao sul daqui, e os Yanomami, que vivem na fronteira Brasil-Venezuela, reclamam de experiências semelhantes e dizem que também estão tentando impedir a distribuição de seu sangue e DNA pela empresa americana Coriell Cell Repositories, uma entidade sem fins lucrativos em Camden, NJ
Coriell armazena material genético humano e o disponibiliza para pesquisa. Ele diz que as amostras foram obtidas legalmente por meio de um pesquisador e aprovadas pelos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos.
Joseph Mintzer, vice-presidente executivo da organização matriz, o Coriell Institute for Medical Research, disse na época em entrevista por telefone: “Não estamos tentando lucrar ou roubar dos brasileiros. Temos a obrigação de respeitar sua civilização, cultura e povo, é por isso que controlamos cuidadosamente a distribuição dessas linhas de células”.
Como um centro similar na França que também obteve amostras de sangue e DNA dos Karitiana e de outras tribos amazônicas, Coriell diz que fornece espécimes apenas para cientistas que concordam em não comercializar os resultados de suas pesquisas ou transferir o material a terceiros.
Os povos indígenas da Amazônia são ideais para certos tipos de pesquisa genética porque são populações isoladas e extremamente unidas, permitindo que os geneticistas construam um pedigree mais completo e rastreiem a transmissão de doenças por gerações.
A prática de coletar amostras de sangue de índios amazônicos, no entanto, tem levantado suspeitas generalizadas entre os brasileiros, que têm sido zelosos sobre o que chamam de “biopirataria” desde que mudas de seringueira foram exportadas da Amazônia há quase um século. A ascensão do mapeamento do genoma nos últimos anos só piorou esses temores.
Um trabalho realizado em 2020 pela Biblioteca Nacional de Medicina, mais especificamente o National Center of Biotechnology Information, mostra o caso dos índios Yanomami do Brasil que foram objeto de uma etnografia estadunidense iniciada na década de 1960. A pesquisa trouxe repercussões nefastas à vida dos indígenas do Brasil por várias décadas, e demorou mais de 40 anos até o início de um processo de reparação envolvendo o governo brasileiro e universidades americanas. Objetivo: discutir o significado da devolução de amostras de sangue Yanomami, bem como as contribuições das epistemologias dos saberes tradicionais indígenas para o debate sobre a ética em pesquisa e a estruturação de meios para o controle social dos pesquisadores e a proteção dos participantes de estudos científicos, tendo como exemplo o povo indígena Yanomami do Brasil, submetido a uma etnografia nociva nas décadas de 1960 e 1970.
Como resultado das pressões legais que as tribos, e a Fundação Nacional do Índio trouxeram as instituições brasileiras que também coletaram amostras de sangue, as devolveram às tribos. Mas entidades no exterior têm resistido, dizendo tanto que agiram corretamente, quanto que não há lucros a serem repartidos.
Orlando Karitiana, 34, um líder tribal, disse que querem ser recompensados financeiramente: “Não queremos esse sangue de volta, porque está contaminado agora. Mas essas amostras de sangue são valiosas em sua tecnologia e achamos que toda família que foi enganada para doar sangue tem que se beneficiar.”
As religiões de alguns outros grupos tribais consideram o tecido humano importante ou quase sagrado. Os Yanomami, por exemplo, diziam querer que as amostras de sangue fossem devolvidas intactas.
“Uma alma só pode descansar depois que todo o corpo for cremado”, disse Davi Yanomami, líder do grupo. “Ter o sangue de uma pessoa morta preservado e separado do resto do corpo é simplesmente inaceitável para nós.”
FONTE: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32573063/
https://www.baltimoresun.com/news/bs-xpm-2007-06-24-0706230377-story.html