Imagem de 56 anos atrás lembra o maior desastre por deslizamento em Caraguatatuba. 487 mortes.
Matéria sobre o maior desastre ligado às chuvas, com deslizamentos de terra em Caraguatatuba a 56 anos.

Com 40 mortes confirmadas até o momento e mais de 750 desabrigados, as chuvas que atingiram municípios do litoral norte de São Paulo no fim de semana são o maior acumulado que se tem registro no país, com 682 milímetros e um rastro de destruição ainda incalculável.
A catástrofe atual ocorre 56 anos após a maior tragédia ligada às chuvas na história de São Paulo, que ocorreu em 18 de março de 1967 no município de Caraguatatuba, quando as águas causaram o desmoronamento de encostas e centenas de casas foram soterradas.
Segundo a contagem feita na época, 487 pessoas morreram, mas estima-se que o número de óbitos tenha sido muito maior, já que muitos desaparecidos nunca foram encontrados.
O episódio foi tema de livros e documentário, além de, junto à tragédia que ocorreu no Rio de Janeiro em 1966, também por conta de chuvas, ter ajudado a estruturar a Defesa Civil no Brasil.
Um texto do jornal Folha de São Paulo publicado em 21 de março daquele ano descreve parte do cenário.
“Caraguatatuba está sob a lama, Sábado à tarde, depois de três dias de chuva, começou o deslizamento dos morros. Árvores foram arrancadas e arrastadas pela enxurrada, levando pessoas, animais e casas. Toda Caraguatatuba, desde a praia Martim de Sá – onde se sai para Ubatuba – até a Santa Casa, do outro lado da cidade, foi varrida.”
“Por terra não se chega ao litoral Norte. Na estrada Paraibuna-Caraguatatuba a partir do Mirante, no quilômetro 194, até o 199, trinta barreiras caíram, obstruindo a estrada. E no quilômetro 202 a estrada desapareceu levada pelas águas, em quase dois mil metros. Aí, no sapé de um morro, isoladas de tudo e de todos, pessoas acenam desesperadamente para os helicópteros que passam ao longe.”

Eduardo D’Angelo, 65, tinha nove anos em 1967, quando as chuvas devastaram grande parte do município de Caraguatatuba.
Sua família viajava com frequência ao litoral para passar períodos de 15 dias na Colônia de Férias Ministro João Cleófas.
“A hospedagem ficava perto da praia, e quando pegamos o ônibus para voltar já era possível ver o mar, que normalmente tinha ondas tranquilas, muito agitadas, com uma maré alta. Chovia muito, e nos anos todos que eu estive lá, não vi nada igual”, recorda.
Eduardo e a família, um grupo de 10 pessoas, saíram um dia antes dos danos começarem, e ficaram sabendo da situação de calamidade pouco após voltarem para casa.
“Naturalmente foi o assunto da família, o alívio de termos voltado antes.”
No ano seguinte, Eduardo e sua família voltaram e ainda testemunharam os efeitos das chuvas intensas.
“Na serra, a caminho da Colônia, vimos todas as casas soterradas até o telhado, e o rio que desce ao longo da estrada, se alargou três vezes em tamanho e levou a ponte que existia ali.”
Eduardo, que trabalha com o setor habitacional como diretor do Movimento Pró-moradia Mário Lago, avalia que não houve avanços significativos que pudessem prevenir novos desastres meio século após a tragédia.
“Essas situações de deslizamento ocorrem porque o homem altera a natureza, e as políticas públicas não agem para evitar que moradias sejam construídas em locais perigosos. Estamos falando de 1967 e de lá para cá as condições só pioraram.”
FONTE: BBC News, por Giulia Granchi